sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

DICKE: O GÊNIO DA LITERATURA QUE A ACADEMIA DE LETRAS DE MT NÃO QUIS VER



Texto forte, conciso a ponto de permitir interpretação até nas entrelinhas, de modo singular, como somente ele seria capaz de produzir. Assim o escritor Ricardo Guilherme Dicke construiu sua obra literária ambientada em cenários rurais, à exceção de “Último Horizonte”.
Dicke foi um raio de luz na literatura mato-grossense. Seu adeus, imposto por insuficiência respiratória aguda após parada cardiorrespiratória revertida em hipertensão arterial severa, às 10 horas da quarta-feira, 9 de julho de 2008, no Hospital São Mateus, em Cuiabá, deixou um enorme vazio no círculo literário nacional.
O escritor Dicke não foi imortal da Academia Mato-grossense de Letras (AML), entidade com sede em Cuiabá e instalada na região central da cidade na Casa Barão de Melgaço, imóvel que pertenceu ao ex-mercenário, ex-almirante e ex-governador de Mato Grosso Augusto João Manuel Leverger e que se tornou Barão de Melgaço. A academia fingia que não o via e, ele, por sua vez, não dava bola para ela.
Dicke não ocupou nenhuma das 40 cadeiras reservadas aos imortais da AML, mas independentemente disso, construiu uma obra que todos os mortais devem reconhecer como referência da literatura mato-grossense.
O escritor nasceu no município de Chapada dos Guimarães. Formado em filosofia, artista plástico nato, poliglota (falava seis idiomas), casado, pai e avô, em 1968 Dicke estreou no mundo da literatura com “Deus de Caim”, obra que foi uma das vencedoras do Prêmio Walmap, em torno do qual gravitavam grandes escritores; essa conquista foi referendada por um júri composto entre outros por Jorge Amado e Guimarães Rosa.
“Deus…” foi o abre-alas da obra que prosseguiu com “Caieira”, “Remington de Prosa”, “Madona dos Páramos”, “A Chave do Abismo”, “Cerimônias do Esquecimento”, “Rio Abaixo dos Vaqueiros”, “O Salário dos Poetas” e outros textos, alguns inéditos, outros inacabados. Dicke também escreveu artigos para jornais e revistas em Cuiabá, Rio de Janeiro e outras cidades.
A obra o Salário dos Poetas ganhou destaque internacional ao ser levado ao palco em Lisboa, Portugal, no ano de 2005. Também foi adaptada para o teatro em Mato Grosso, por Amauri Tangará.
O escritor Dicke virou tema de um documentário produzido pelo amigo jornalista, colunista e produtor cultural Lorenzo Falcão, que misturava realidade e ficção e do qual participou enquanto ator.
Nunca a literatura mato-grossense ganhou tanto, quando Dicke se lançou no mundo literário. De igual modo jamais perdeu tanto quando de sua partida. Sua obra é o melhor legado da figura humilde, discreta, de voz pausada, sempre disposto a ouvir. Foi o escritor mato-grossense que melhor transportou a alma de Mato Grosso para as páginas dos livros, jornais e revistas.
Por: Eduardo Gomes

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