domingo, 24 de março de 2013

UM ESTADO CHAMADO MATO GROSSO


OPINIÃO

Buracos já engoliram as estradas, 

atoleiros acabaram com os caminhos

Era uma vez
um estado chamado 
Mato Grosso. 
Que já não tem
mais mato, nem
cerrado. Que não
tem estrada,
nem caminhos.
Os buracos já
engoliram as
estradas,
os atoleiros
acabaram com os
caminhos, nem de cavalo passa mais.
Andar? Nem devagar nem ligeirinho. Aqui só por cima,
assim como os passarinhos. Quem tem dinheiro viaja
de jatinho, quem não tem faz rali nas crateras,
sem vida, sem fera, sem esperança.

Era uma vez um estado chamado Mato Grosso.
Que já não tem mais mato, nem cerrado, que já
não tem mais capital, a capital parece cidade em
guerra, está esburacada, e não é no asfalto,
é buraco feito. O que nos dizem é que o futuro
legado passa pelos buracos, pelas crateras
agora escavadas. Já não tem trânsito, não tem
como sair nem como chegar. Nela parte do
comércio não pode vender e o cidadão não
pode comprar. E sua população que não
possui carro, se for de bicicleta será atropelado,
de transporte coletivo esmagado, e se sair a pé
pelo calor será queimado. Não importa o transporte,
porque mais cedo ou mais tarde todos serão
 multados ou roubados.

Era uma vez um estado chamado Mato Grosso.
Que já não tem mais mato, nem cerrado, nem
educação, as escolas estão caídas ou caindo,
o pedagógico não tem projeto, o metodológico
não tem método e os professores que ainda
não saíram vão resistindo, mas os alunos, estes
não aprendem, nem repreendem. São depositados
aos montes e hoje já sabem menos que ontem,
os pais procuram saída, pois a única solução no
Estado que tudo é grande, todos procuram uma
grande saída, é SAIDA, mesmo que para fora,
fora da casa, do bairro, da cidade, fora do próprio
estado, porque a aula já é fora, pois dentro paredes
sequer tem escora.

Era uma vez um estado chamado Mato Grosso.
Que já não tem mais mato, nem cerrado, que
não tem saúde. Os hospitais não recebem repasses
de dinheiro, repasse aqui só de paciente, que
pacientemente espera, viaja, espera, viaja mais
um pouco e volta, curado nem sempre, mas pelo
menos morre viajado. Falta tudo, falta o médico,
falta o enfermeiro, falta o remédio, falta leito,
falta jeito, só não falta a doença, nem a dengue,
nem desculpa, nem culpado.

Era uma vez um estado chamado Mato Grosso.
Que já não tem mais mato, nem cerrado, que
alta paz, falta segurança, só não falta roubo e
matança. Morre gente de todas as classes,
todas as casas, todos os bairros, de todos os
municípios, até na roça e na mato. Só não
morre e não matam quem rouba e quem mata,
porque por aqui ou por lá as leis estão do lado
dos assassinos, espertalhão é o ladrão que
tem mais direito que o honesto cidadão.

Era uma vez um estado chamado Mato Grosso.
Que já não tem mais mato, nem cerrado, mas tem
gente boa, gente que trabalha, gente que luta,
gente que enfrenta o sol escaldante para fazer
da ausência do mato e do cerrado a mais rica fonte
de alimento deste planeta. Tem gente que acredita
na força do trabalho, na honestidade.
Gente que sabe receber, que sabe ofertar,
só ainda não sabe cobrar. Gente que precisa
aprender votar, gente daqui, gente de fora.
Gente que se mistura, gente que ainda sorri
apesar das lágrimas pelos tantos e tantos descasos,
que conta seus causos, que ama os seus,
que adora esta terra sem tanto ver mato ou cerrado,
mas com tantas possibilidades,
apesar dos tantos buracos cavados.

Era uma vez um estado chamado Mato Grosso.
Que já não tem mais mato, nem cerrado, que
eternamente chamará Mato Grosso, não pelos
buracos encalacrados, mas pela sua grandeza,
pela pujança, pela sua riqueza natural ou produzida,
pelo seu povo e pelo seu orgulho, pela sua
capacidade de renascer das tantas crateras
das estradas destroçadas, da terra arrasada,
da luta lutada para a grandeza, para o topo.
Mato Grosso não tem mato nem cerrado,
mas seu povo é fênix, é forte, é grande,
é produtor, faz esse Estado ser um colosso.
Afinal foi fazendo buraco nas crateras da
própria vida, encontrando pedras,
encontrando ouro, encontrando diamantes,
produzindo soja, catando algodão,
colhendo o milho, criando gado,
engordando porcos, alimentando
galinhas que saciamos a fome do mundo.

Era uma vez um estado chamado Mato Grosso.
Que já não tem mais mato, nem cerrado, também
não tem segurança, nem saúde, nem educação,
nem caminhos, nem estradas. Mas se as estradas,
se a capital está em buraco e o interior está
em crateras, será nestas valetas que vamos
plantar nossas esperanças de dias melhores,
de políticos melhores, de gestores melhores
e ainda um dia, sem buraco e sem cratera,
veremos um Mato Grosso gigante não só pela
sua riqueza, não só pelo seu povo, mas,
sobretudo pela sua beleza.

Era uma vez um estado chamado Mato Grosso.
Que já não tem mais mato, nem cerrado.
Mas não se engane mundo, pois o maior
legado não serão as obras da Copa para
Cuiabá e para o Mato Grosso. O maior legado
é o que levarão os que aqui passarão.
Há de verem a nossa força, nossa resistência,
nosso jeito de ser, nossa capacidade de renascer.
Verão de onde sai o alimento que farta sua mesa,
que sacia sua fome e a fome dos seus, verás de
onde a semente nasce, de onde brota a vida que
é regada pelo suor dos homens e mulheres deste
gigante já sem mato e sem cerrado, mas indestrutível
e eterno solo de Mato Grosso.

JOÃO EDISOM DE SOUZA é analista político,
professor universitário em Mato Grosso.

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