quarta-feira, 11 de julho de 2012

SENADO CASSA DEMÓSTENES TORRES POR 56 VOTOS CONTRA 19



Com queda de senador goiano, ex-marido 

de mulher de bicheiro deve assumir


IARA LEMOS E FABIANO COSTA
DO G1, EM BRASILIA
Demóstenes Torres (sem partido-GO) teve 
seu mandato de senador cassado nesta 
quarta-feira (11) pelo plenário do Senado, 
em razão de sua ligação com o bicheiro 
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Em votação secreta, Demóstenes foi o
 segundo senador cassado na história 
do Senado com 56 votos favoráveis - 
Luiz Estevão foi cassado em 2000. 
Apenas 19 dos 80 senadores presentes 
votaram pela manutenção do mandato do senador.
 Foram cinco abstenções.

Para se confirmar a perda do cargo, 
aprovada anteriormente por unimidade
no Conselho de Ética e na Comissão de
Constituição e Justiça, seriam necessários, 
no mínimo, 41 votos de senadores.
O único senador ausente na sessão foi 
Clovis Fecury (DEM-MA), que está de licença 
desde o dia 6 de julho.

Com a cassação aprovada, Demóstenes Torres 
tem seus direitos políticos suspensos por oito 
anos a contar do fim do mandato parlamentar,
que se encerraria em 2019. Com isso, Demóstenes 
só poderá voltar a disputar eleições a partir de 2027, 
quando tiver 66 anos.

Em tese, ele poderia questionar a cassação no 
Supremo Tribunal Federal (STF), mas ainda 
nesta terça (10), antes da decisão, o advogado 
de Demóstenes, Antonio Carlos de Almeida Castro, 
o Kakay, descartou uma apelação na Justiça. 
"Não vamos recorrer. A decisão do plenário é 
soberana. Não há como fazer qualquer tipo de 
recursos. Só nos cabe aceitar a decisão", disse o advogado.

"Faltou com a verdade"

Com a perda do mandato, Demóstenes também 
perde o foro privilegiado e deixa de ser julgado 
pelo Supremo Tribunal Federal, onde é alvo de 
inquérito. Como é procurador de Justiça do 
Ministério Público de Goiás licenciado, Demóstenes 
passa a ter como foro o Tribunal de Justiça de Goiás.

O senador cassado foi acusado de quebra de decoro 
parlamentar por suspeita de ter utilizado o mandato 
parlamentar para auxiliar nos negócios do contraventor, 
preso pela Polícia Federal no fim de fevereiro durante a 
Operação Monte Carlo sob acusação de explorar 
jogos ilegais e corrupção.

Poucos dias após a prisão, surgiram notícias do 
envolvimento de Carlinhos Cachoeira com Demóstenes Torres.

Eu fui perseguido como um cão sarnento. Tudo 
o que aconteceu na minha vida e o que não 
aconteceu veio a público. Mandaram jornalistas 
para todo lugar de Goiás e do Brasil. Por que não 
apareceu meu nome em desvios? Eu fui investigado como ninguém no Brasil."

'Bode expiatório' e 'cão sarnento'

Demóstenes chegou ao plenário nesta quarta para 
sessão que votaria sua cassação antes dos colegas 
e permaneceu sentado durante os discursos. 
Antes da votação, voltou a negar ter favorecido
 o bicheiro e disse que foi um "bode expiatório" 
e "perseguido como um cão sarnento".

Apesar da votação secreta, a sessão, 
que começou às 10h11, foi aberta e as 
galerias do plenário já estavam repletas 
de pessoas convidadas por partidos,
 que receberam 100 senhas para assistir de perto.

Relembre o caso

No começo de março, a primeira denúncia 
indicava que Demóstenes havia recebido 
uma cozinha de presente do contraventor. 
No mesmo mês foram revelados indícios de 
que o então senador vazava informações 
do Congresso para Cachoeira. Depois disso, 
surgiram novas suspeitas de tráfico de 
influência em diversos órgãos federais. 
Em abril, Demóstenes deixou seu partido, 
o DEM, e passou a ser alvo de processo 
no Conselho de Ética.

Desde o início das denúncias, ele alegou 
que sua relação com Cachoeira, revelada 
em gravações da Polícia Federal, se limitaria 
à amizade e que não sabia de qualquer atividade ilegal. 
Em discursos e na defesa escrita, Demóstenes 
alegou que as inteceptações eram ilegais, 
por não terem sido autorizadas pelo 
Supremo Tribunal Federal (STF), questionou 
a interpretação dada sobre os diálogos com 
Cachoeira e se disse vítima de perseguição 
política e da opinião pública.

Discursos na sessão

A representação que pediu a cassação de 
Demóstenes por quebra de decoro parlamentar 
foi de autoria do PSOL. Em nome do partido, 
o senador Randofe Rodrigues (AP) usou a 
tribuna por 30 minutos para afirmar que o 
senador quebrou o decoro e defender a cassação.

Randolfe afirmou que as gravações feitas 
pela Polícia Federal entre Demóstenes e 
Cachoeira deixam claro que as relações 
entre o senador e o contraventor não eram 
apenas pessoais. "O que está em jogo é um 
sinal para milhões de brasileiros sobre a 
credibuliade de uma instituição", afirmou. 
"O diálogo mostra claramente o nível de 
relação entre Cachoeira e o representado [...]
Muitas são as provas que mostram a conduta 
incompatível com o decoro parlamentar."

Antes de Randolfe, o senador Humberto Costa (PT-PE), 
relator do processo no Conselho de Ética, afirmou que
 Demóstenes mentiu aos parlamentares ao 
negar sua relação com o contraventor.

"Vossa Excelência disse aqui que não sabia dos 
afazeres ocultos de Carlos Cachoeira. É muito 
difícil acreditar. Como poderia não saber das 
atividades criminosas? [...] Que amigo é este 
que não procura saber por que o amigo havia
 sido indiciado por seis crimes. Portanto, 
me perdoe, mas Vossa Excelência faltou 
com a verdade", disse o relator.

Quem também defendeu a cassação do
 mandato durante a sessão foi o senador 
Pedro Taques (PDT-MT), relator de processo 
contra Demóstenes na Comissão de Constituição 
e Justiça (CCJ). Segundo ele, Demóstenes
 "feriu de morte a dignidade do cargo".

Histórico de cassações

Antes de Demóstenes, apenas um senador 
teve o mandato cassado: Luiz Estevão, 
então no PMDB-DF, perdeu o mandato 
sob a acusação de ter mentido no Senado 
ao negar envolvimento no desvio de 
R$ 169 milhões nas obras do 
Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo.

A cassação ocorreu no dia 28 de junho de 2000, 
com 52 votos a favor da cassação, 18 contra 
e dez abstenções. Além do mandato, 
Luiz Estevão perdeu os direitos políticos até 2014.

No ano seguinte, Antonio Carlos Magalhães, 
então no PFL-BA, renunciaria ao mandato 
antes da votação de um processo de cassação, 
motivado pela revelação de que obteve a relação 
dos votos da cassação de Luiz Estevão. 
O ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, 
então no PSDB-DF e líder do governo, também renunciou, 
sob suspeita de ter fornecido a lista. 
Ambos foram eleitos novamente em 2002, 
ACM para o Senado e Arruda para a Câmara.

Ainda em 2001, Jader Barbalho (PMDB-PA) renunciou, 
também para evitar a perda de direitos políticos. 
Na época, ele presidia o Senado e era acusado 
de desvios no Banco do Estado do Pará, 
fraudes na extinta Superintendência de
 Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) 
e venda de títulos da dívida agrária.

O processo mais recente de ameaça de 
cassação ocorreu em 2007, quando o então 
presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) 
foi acusado de ter as contas pessoais pagas 
por um lobista. Na época, ele renunciou 
à presidência do Senado e escapou da cassação.

IARA LEMOS E FABIANO COSTA
DO G1, EM BRASILIA



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