terça-feira, 20 de março de 2012

TATU-BOLA DA VEZ

OPINIÃO

 O mascote da Copa 2014, que o Brasil deve usar, é um animal discreto

LORENZO FALCÃO
“Ai tatu... tatuzinho, que abre a garrafa e me dá um pouquinho... nhan nhan nhan”. Assim era o jingle de uma das mais populares caninhas brasileiras, a “Tatuzinho”. Aí, se essa pinga estivesse em falta, você pedia uma dose de “Três Fazendas”. É impossível não achar em três fazendas pelo menos um tatuzinho.

E deu tatu na cabeça! O mascote da Copa 2014, que o Brasil deve usar, é um animal discreto. É o tatu-bola, animal underground que se mete em buracos quando o incomodam. Só que o tatu-bola, na verdade, não é “buraqueiro”. Seus parentes é que se refugiam em buracos. O tatu-bola é um mamífero, do gênero Tolypeutes que tem duas espécies: o Tolypeutes matacuss, encontrado na Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil, especialmente em Mato Grosso, e o Tolypeutes tricinctos, conhecido como o tatu-bola da caatinga. O vencedor foi o tatu-bola Tolypeutes tricinctos, que é o menor dos tatus e endêmico ao território brasileiro. Só ocorre no Brasil. Ele tem a carapaça mais dura do que as dos demais tatus e se enrola, formatando-se como uma bola, ao ser atacado. O animal está na lista da União Internacional para Conservação da Natureza – IUCN, com o status de “em perigo” de extinção.

O tatu é um dos primeiros bichos apresentados aos brasileiros, na mais tenra idade, na fase da alfabetização. A letra “t” vem representada pela figura de um tatu em muitas cartilhas. A palavra tatu vem do Tupi: ta=duro e tu=espesso, em referência à carapaça óssea protetora.

A escolha do tatu-bola não foi fácil. Dizem que ele disputou parelhas com dois outros animais, a cutia e a paca. Aí, não sabemos ao certo porque, o Ronaldo Fenômeno tascou: paca tatu, cutia não. E ficou entre o tatu e a paca. “Tatu subiu no pau / é mentira de mecê / lagarto ou lagartixa / isso sim é que pode sê”. Letra da marchinha de Carnaval de Eduardo Souto, que fez muito sucesso em 1923.

Mas, coitado do tatu. Ele não costuma ser lembrado positivamente. Jeca Tatu, personagem criado Monteiro Lobato e encarnado por Mazzaropi, era associado com pobreza e ignorância. Meio inocente, mas, depreciativo. Música dos Mamonas Assasinas: “comê tatu é bom, porém dá dor nas costas”... ruim pro tatu, hein?! Sua característica subterrânea nomeou um serviço de saneamento em domicílio aqui em Cuiabá: “Limpa Fossa Tatuzão”. Ora ora... coitado do tatu, e que falta de respeito com esse bichinho do chão.

A sugestão partiu da Associação Caatinga, que viu, ao indicar o tatu-bola como mascote da Copa 2014, uma oportunidade de livrar o animal dos perigos da extinção e guindá-lo ao consciente coletivo. A fauna brasileira agradece. O tatu-bola também, enquanto aguarda sua oficialização como mascote. E de "em perigo de extinção", passará à "categoria" de distinção.

LORENZO FALCÃO é editor do caderno Ilustrado do Diário de Cuiabá - tyrannusmelancholicus.blogspot.com

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