domingo, 10 de junho de 2012

"O CHICO GALINDO VIABILIZOU UM NOVO RUMO PARA CUIABÁ"

Carlos Brito, que vai disputar pelo PSD, 

afirma que, caso vença, fará um governo de continuidade


Ele saiu da extinta Agecopa em meio ao forte desgaste de uma batalha polêmica com o ex-secretário Eder Moraes. Para muitos, o episódio seria uma espécie de fim de sua carreira política. Após se filiar ao PSD, eis que o destino lhe proporcionou uma reviravolta: fortalecido, Carlos Brito será candidato a prefeito de Cuiabá.
Brito, que deixou a Secretaria de Comunicação de Cuiabá para lançar-se ao projeto, afirma que, se eleito, fará uma gestão de continuidade do prefeito Chico Galindo (PTB). "Não temo rejeição por defender Galindo, que tem muitas virtudes e avançou na gestão de Cuiabá", afirmou.
Ele começou na política como líder comunitário no Parque Cuiabá, foi vereador por dois mandatos, presidente da Câmara e prefeito interino. Em seguida, elegeu-se deputado estadual, por dois mandatos, foi secretário de Estado da Casa Civil e da extinta Sejusp (Justiça e Segurança Pública), diretor de Infraestrutura da extinta Agecopa e, mais recentemente, secretário de Comunicação da Prefeitura.
"Ser prefeito de Cuiabá é um sonho. Vou lutar até o fim para torná-lo realidade", disse.
Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – Por que se candidatar a prefeito? O que esse projeto representa na sua carreira política?
Carlos Brito - Seria a realização de um sonho. Me elegi diversas vezes e tive vários cargos públicos. Em 2004, eu vislumbrei a candidatura a prefeito e entendi que era minha vez. Mas, uma parte do meu partido, na época o PPS, não queria. Eu não consegui nem disputar a convenção, porque se criou uma exigência sobre estar em dia com a contribuição partidária. Até consegui uma liminar para concorrer, mas eles anteciparam a convenção e não cheguei a tempo. Desta vez, eu não tinha esse projeto. Como eu estava na Agecopa, planejava voltar à vida política como candidato a deputado estadual em 2014. Mas, a Agecopa acabou e eu vim trabalhar na prefeitura com o Francisco Galindo (PTB). Então o PSD me propôs discutir uma candidatura. Eu disse que não, porque eu fazia parte da administração. Como iria trabalhar um projeto paralelo a isso? Eu me sentia impedido. Mas, após a decisão dele de não se candidatar à reeleição, o PSD retomou a discussão. Ainda apontei algumas dificuldades: o partido é novo, faltava tempo de televisão e teríamos que começar tudo do zero, chegando na reta final, quando tem gente falando em candidatura há muito tempo. Ainda assim, o partido insistiu. E isso me deu um entusiasmo muito grande. Uma vez eu briguei para ser candidato e, hoje, Deus permitiu que meu sonho antigo pudesse ser revivido. Vou lutar cada segundo para não deixar esse sonho fugir.
MidiaNews - O senhor diz que foi convencido pelo PSD a disputar. Então, essa tentativa do deputado Walter Rabello de entrar na disputa interna foi na contramão do partido?
Carlos Brito - O partido estabeleceu que, até 30 de maio, quem tivesse interesse em disputar pelo partido, que se apresentasse. Ninguém se apresentou. Por isso, o PSD aprofundou a discussão só comigo e depois veio a anúncio do Walter, que eu recebi com surpresa. Contudo, logo o partido informou que ele estaria impedido porque se filiou depois do prazo legal.
MidiaNews - O senhor acredita na possibilidade de o Galindo ainda mudar de ideia e ser candidato à reeleição?
Carlos Brito - Eu perguntei isso a ele. E ele disse que não, que não considerava essa hipótese. Somente depois disso eu aceitei a discussão com o PSD.
MidiaNews – Não seria mais lógico o prefeito tentar a reeleição?
Carlos Brito - O prefeito implantou um processo de gestão moderna e eficiente; ele deu um rumo a Cuiabá. Só faltou mostrar isso para a sociedade de maneira efeitiva. Por isso, eu pensava que seria justo que ele tivesse um segundo mandato, uma segunda oportunidade para ele mesmo usufruir politicamente das obras e transformações que a cidade terá em razão das medidas impopulares que ele tomou. Mas, apesar das insistências internas, ele decidiu não ser candidato.
MidiaNews – O senhor vai defender a gestão Galindo na sua campanha?
Carlos Brito - Vou defender a gestão acertada, as ações certas. Sem dúvida, houve um equilíbrio gerencial no município, em termos de receita e despesa, e temos uma situação positiva. Fechou-se o exercício de 2011 com superávit. Isso retoma a credibilidade do município. Francisco Galindo viabilizou um rumo para Cuiabá. Temos um problema grave na Saúde, mas as demais áreas encontraram um rumo. Não há porque não avançar nesse sentido de obras e melhorias de serviços. O Poeira Zero vai garantir asfalto a dezenas de bairros, e com o asfalto vem a segurança, a iluminação pública, a melhoria dos valores dos imóveis, são múltiplas as vantagens.
“Se for eleito, serei prefeito durante os quatro anos. Quem pensar que eu sairei está enganado”
MidiaNews - O senhor não teme herdar a rejeição do prefeito?
Carlos Brito - Não. A população não será contra o que é bom pra ela. Dentro desse conjunto de dificuldades, a gente pensa isso também. Mas eu acredito que, em pouco tempo, o Galindo tomou decisões difíceis e impopulares, que deram resultados muito positivos. Como o Poeira Zero, que é custeado pela arrecadação do IPTU reajustado, e a concessão da água e esgoto, que vai se revelar acertada em pouco tempo.
MidiaNews – Quais os maiores gargalos da atual gestão? O que o senhor mudaria se assumisse a Prefeitura?
Carlos Brito - O problema mais grave e crônico é a Saúde Pública, então o grande desafio de qualquer prefeito será esse. A prioridade do PSD será o enfrentamento dessa realidade. Temos que ouvir o usuário, os trabalhadores do sistema. O SUS [Sistema Único de Saúde] é um grande ganho, mas precisa ser revisto. Temos um pronto socorro que é estadual na prática e temos que discutir se constrói um hospital estadual, ou se constrói um novo pronto socorro para Cuiabá e estadualiza de uma vez. Além de mais recursos, é preciso informatizar o atendimento, reforçar as policlínicas, qualificar os funcionários. Há, sim, muitos esforços que foram feitos, mas como a demanda é grande, acaba sufocando os resultados positivos. Esse mesmo pronto socorro tão criticado é que tem salvado vidas todos os dias. Outro grave problema é a infraestrutura; Cuiabá precisa aplicar o plano diretor da cidade.
MidiaNews - O senhor quer o apoio do Galindo. Como enxerga a já anunciada preferência dele por apoiar a candidatura do deputado Guilherme Maluf (PSDB)?
Carlos Brito - Há uma certa naturalidade nisso, o PTB e o PSDB são parceiros de longa data, compuseram a chapa da última eleição. Contudo, o PSD também integra a base de sustentação do prefeito, com três secretarias. Antes de o Galindo anunciar que não seria candidato à reeleição, não havia uma pré-candidatura do PSD. Ao fazer o anúncio e declarar apoio ao Maluf, ele se antecipou e, dentro do cenário posto, ele tinha essa preferência. Nós estávamos respeitando a candidatura do PTB. Então nós não chegamos atrasados, nós tivemos que construir em poucos dias uma situação que não existia. Entendemos que o PTB é um parceiro importante, mas não podemos criar constrangimentos intransponíveis. Esperamos um segundo encontro na semana que vem e ainda temos alto interesse em ter o PTB conosco.
MidiaNews - Ao apoiar o Maluf, o Galindo pode desgastar a imagem dele, se atrelando novamente à imagem do ex-prefeito Wilson Santos (PSDB)?
Carlos Brito - Eu poderia emitir uma opinião, como assessor do prefeito, há uma semana. Contudo, hoje, como pré-candidato do PSD, não posso interferir. Tenho opinião, mas agora devo respeitar as avaliações de outros partidos.
MidiaNews - Existe a possibilidade do PSD e do PSDB se unirem?
Carlos Brito - Se for possível um entendimento, para termos um outro caminho, não vamos desconsiderar isso. Há um grande respeito pelo projeto de candidatura do doutor Maluf. Mas não temos veto a nenhuma composição. Claro que temos alguns parâmetros, não pode ser de qualquer forma, a qualquer preço. Os compromissos não podem ser maiores que o compromisso com a cidade. Não posso ser tolhido depois por conta de acordos feitos durante a campanha. Às vezes você fala que vai criar secretarias de acordo com as alianças que fez e nem sempre é possível. Contudo, nenhum partido se mantém sozinho. Para administrar a cidade precisamos buscar nomes, perfis, e se vem desse ou daquele partido, precisa estar muito claro desde o começo do processo.
MidiaNews - Quais partidos podem apoiar sua candidatura?
Carlos Brito - O PTB é um caminho, e sei das dificuldades. Mas vamos conversar com todos os partidos que se disponham a esse diálogo, para fazer uma coligação diferente da habitual, não somente com objetivo eleitoral. Teremos no mínimo cinco minutos de TV, mas por uma razão estratégica vamos consolidar isso e somente depois anunciar. O PSD é novo, o número 55 é pouco conhecido. Vai passar a ter uma personalidade política após essa eleição. Contudo, já surgiu com a filiação de grandes lideranças no Estado. O presidente da Assembleia Legislativa, José Riva; o vice-governador Chico Daltro; deputados federais e estaduais; prefeitos; vereadores. Mas além de forte, precisa ser unido, senão as pessoas deveriam permanecer onde estavam. Nós vamos apresentar uma proposta diferente, para ter um resultado diferenciado. O PSD tem 20 segundos de tempo de TV, e é insuficiente, pois temos outros partidos fortes.
MidiaNews - Em relação ao seu vice, já há algo definido?
Carlos Brito - Em regra, todo partido busca o poder. Na busca de compensação, o cargo do vice sempre é pleiteado. O que eu tenho dito é que, sendo eleito prefeito, o vice precisa ter claro que serei prefeito durante os quatro anos. Quem pensar que eu sairei está enganado, aí quando a gente fala isso, reduz os interessados. Se eleito, serei prefeito cada segundo do mandato, só me afastarei por viagens, doença, algo inesperado.
MidiaNews - Há alguma possibilidade de o senhor abandonar esse projeto de candidatura?
Carlos Brito - Não. É pra valer. Não posso trabalhar com a cabeça de uma composição se, na verdade, estamos determinados a vencer as eleições. Nosso foco é vencer as eleições em Cuiabá.
MidiaNews - E assim, quem sabe, pavimentar o caminho para eleger um governador do PSD em 2014?
Carlos Brito - Isso é uma consequência. Havendo sucesso no projeto, você começa a pensar no segundo, no terceiro. É natural. Pode ser que para 2014 o PSD apresente um nome ou apoie alguém. Se for eleito prefeito, não serei candidato em 2014.
“Eu, graças a Deus, hoje tenho uma cultura de fé. Não adianta a gente cultuar mágoa, ranço, vingança”MidiaNews - O senhor vê o Mauro Mendes (PSB) como favorito?
Carlos Brito - Eu o vejo como um candidato qualificado, com o qual vou concorrer. A política é imprevisível. Já tivemos situações em que candidatos com índice de rejeição altíssima, considerados carta fora do baralho, que foram reeleitos por erros de seus concorrentes. Eu preciso ganhar e é em cima disso que vou trabalhar. Não vou acompanhar os passos dos meus concorrentes. Cada qual tem que apresentar o melhor para a cidade avaliar.
MidiaNews – Com relação ao fim da Agecopa, ficou ainda algum resquício de mágoa ou decepção daquele episódio tumultuado que foi a sua saída e a extinção da agência?
Carlos Brito - Dizer que situações como essa não marcam a vida da gente é também negar o óbvio. Agora, como a gente lida com isso vai de pessoa para pessoa. Eu, graças a Deus, hoje tenho uma cultura de fé, sou evangélico e isso me permite lidar com essas situações sob um outro prisma. O que não nos tira o sentimento. Mas não adianta a gente cultuar mágoa, ranço, vingança. A gente tem que crer que as coisas acontecem no seu tempo e na sua forma. Eu penso que, mais importante que me ater a isso tudo, é olhar as oportunidades que ainda existem, que não são poucas. Mas que, se não tomarmos providências urgentes, elas vão se perder. Então aquilo que veio para ser o um grande evento em nossas vidas, para a cidade, o maior evento do planeta, poderá vir, passar e deixar um legado muito pequeno. Ou resumido. Esses embates, essas situações todas, já deixaram prejuízo. Providências que deveriam ter acontecido há mais tempo e foram postergadas. Atenção demais em um determinado item e de menos nos outros todos.
MidiaNews - O senhor está se referindo à escolha do modelo de transporte VLT [Veículo Leve sobre Trilhos] em detrimento do BRT [Bus Rapid Transit]?
Carlos Brito - Hoje está definido, o governo decidiu. Os municípios são ouvidos, mas na verdade a atribuição é do governo do Estado. São situações postas, você tem que lidar com isso e procurar fazer o melhor possível. O que eu digo é que a questão mobilidade urbana não é só ela, imperiosa. Como diretor de Infraestrutura, a mobilidade era um dos itens importantes para minha diretoria. Mas a Infraestrutura tinha que construir a Arena (Pantanal). Sem a Arena não tinha a Copa do Mundo. E no período que estive, firmei a base para que pudesse dar certo. Havia uma credibilidade contratual. Aquele início foi uma boa raiz. Entendemos que infraestrutura tem outras tônicas: a infraestrutura de atendimento na Saúde, dos outros bairros, de uma série de medidas que precisam acontecer. Segurança, redução dos índices de violência e criminalidade. Não adianta eleger um item e desconsiderar outros. Mas não adianta partir somente para a crítica. Tem que melhorar o diálogo.
MidiaNews - Faltam dois anos para o início da Copa, e o VLT ainda está sendo licitado. Vai dar tempo?
Carlos Brito - Os técnicos apontam dificuldades. Mas nós não podemos torcer contra. O governo tem afiançado publicamente que estará pronto dentro do prazo para a Copa do Mundo. É importante ressaltar que, na questão da mobilidade urbana, a exigência da Fifa é a acessibilidade a determinados locais. Arena, centros de treinamento, rede hoteleira, setor de saúde, aeroporto. Havendo acessibilidade no tempo que é pré-estabelecido, com a segurança necessária, há mobilidade urbana. Mas o que é para ser bom não pode tomar a atenção de outras providências que precisam ser tomadas. Para estar pronta para a Copa do Mundo, a cidade precisa muito mais que isso. Seja VLT, BRT... é isso que estou tentando dizer.
MidiaNews – O prefeito tem que participar mais ativamente desse processo da Copa? O que a Prefeitura pode fazer que não faz?
Carlos Brito - A questão do trânsito, das obras alternativas. Começaram as obras de mobilidade, mas e as várias obras de desbloqueio que foram faladas e não foram executadas? Hoje, as rotas alternativas e desvios acontecem em vias já existentes. A Prefeitura pegou recursos do Poeira Zero e concentrou nessas rotas, fazendo um recapeamento. Porque essas ruas são vias terciárias, que não recebem normalmente um grande fluxo de veículos. As obras precisam ter celeridade, mas essa celeridade não pode comprometer a cidade. A prefeitura tem que estar atenta.
LAÍSE LUCATELLI E ANA ADÉLIA JÁCOMO
DA REDAÇÃO - MIDIANEWS


0 comentários:

Postar um comentário

Visite