segunda-feira, 16 de abril de 2012

PRODUÇÃO CRESCE, MAS PROBLEMAS CONTINUAM, DIZ FOLHA


A Folha de S.Paulo voltou a Mato Grosso                                                                             depois de três anos para comparar a situação

BR-163. Paragem de caminhoneiros próxima a Rondonópolis (MT). Um sujeito de expressão cansada se aproxima de uma Farmácia Popular. Está à procura de rebite, a droga que cria os "supercaminhoneiros". O "farmacêutico" aponta para os fundos do estabelecimento.
Ali, um apressado senhor abre a porta. Olha ao redor e diz: "Cinco reais cada". O caminhoneiro retruca: "Mas é do bom, não é?". "Sim", diz o traficante. "Me dê cinco", pede o caminhoneiro. A reportagem da Folha também comprou a droga.
Uma grave epidemia assombra as estradas brasileiras e tem transformado a vida de caminhoneiros e de suas famílias. Quem classifica como epidêmico é o próprio Ministério do Trabalho, na seção de Rondonópolis.
Mas o vício não é causa, é efeito. E tem levado ao flagelo uma legião de escravos da soja, os trabalhadores rodoviários que se impõem jornadas desumanas de trabalho.
Três anos depois de percorrer o principal corredor de exportação de soja do país, a Folha voltou às BRs 163 e 364. Percorreu 2.800 quilômetros, entre o norte do Centro-Oeste e o porto de Santos -principal porta de exportação do país. A redução do número de buracos (embora ainda haja muitos) é uma melhora sutil diante da situação geral.
Estradas não duplicadas, sem acostamento e de sinalização confusa tornam caótico o cotidiano de 12 mil caminhoneiros que trafegam dia e noite transportando a soja, o principal produto do agronegócio do Brasil.
Em três anos, a situação mudou pouco. A duplicação do corredor, que em 2006 foi prometida para 2011, deve ficar para 2015. "O atraso dessa obra vai provocar muitos acidentes com vítimas: 30% da safra de grãos do país passa por essas rodovias", diz Miguel Mendes, diretor da Associação dos Transportadores de Carga de Mato Grosso.
Diante das péssimas condições das estradas e com o avanço da produção, os corredores das BRs 163 e 364 se tornam "armadilhas" para quem é obrigado a percorrer esse trajeto todo dia.
A duplicação do trecho deve consumir R$ 1,5 bilhão e está no Programa de Aceleração do Crescimento. Por enquanto, somente dois trechos estão em obras, mas há atrasos. O Ministério dos Transportes estuda incluir as rodovias na quarta etapa do programa de concessões, mas diz que o assunto é "complexo".
Em nota, a pasta afirma o seguinte sobre a concessão da BR-163: "São muitos os interesses envolvidos num processo de concessão. O estudo é complexo, detalhado e muito minucioso".
Enquanto isso, a força agrícola de Mato Grosso avança. Há três anos, o Estado produzia 18,8 milhões de toneladas de soja. Neste ano, a produção deve alcançar 22 milhões. Até 2020, serão 46 milhões de toneladas. 

Nova lei vai tentar frear longas jornadas nas rodovias do país

O Brasil é um país rodoviário, mas, apesar disso, a profissão de caminhoneiro jamais foi regulamentada. Na semana passada, depois de anos de discussão, o Congresso aprovou uma lei que regulamenta essa atividade.
"A lei sozinha não vai resolver nada. É preciso que caminhoneiros e transportadores cumpram o que determina a legislação", diz Epitácio dos Santos, presidente da Federação dos Trabalhadores do Transporte do Paraná.
A nova regra determina uma jornada de 44 horas semanais para os caminhoneiros e autoriza duas horas extras por dia, o que (considerando o sábado) permite mais 12 horas de trabalho.
O modelo de remuneração por comissão não foi proibido, mas ele não pode impor jornadas excessivas, além daquelas fixadas pela lei.
Os transportadores criticam a lei. Dizem que o novo modelo resultará no aumento do custo do frete, já um problema para regiões do interior do país.

AGNALDO BRITO / DA FOLHA DE S.PAULO

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