sábado, 17 de março de 2012

TAQUES, MAGGI E A IMPRENSA LIVRE

OPINIÃO
PAULO ZAVIASKI
"É proibido pisar na grama onde houver uma placa dizendo que é proibido pisar na grama”. Os senadores Taques e Maggi querem criar novas leis sobre as mesmas leis que já existem aos montes contra desvios da imprensa.
Vivemos de ditadura em ditadura, que sempre piora a cada nova que surge. Todas as vezes em que deposito esperanças em determinado cidadão, ele me apronta noutro dia, decepcionando-me.
Alguns anos atrás, logo após entrarmos nesta outra ditadura bem mais perigosa, um juiz federal que fora transferido para esta capital estacionou em sua repartição, bem ali na antiga Praça Bispo Dom José.
Vizinha parede e meia da casa que pertencia à minha saudosa e histórica professora Oló, perto do “Mundeuzinho”, Santa Casa e do bairro do Mundéu.
Alertado pelo grande amigo e advogado Alfredo Ferreira da Silva, hoje funcionário aposentado daquela instituição federal, percebi duas coisas. O quanto certos poderes, mesmo pequenos, podem embriagar o enigma humano e a submissão hipnótica que um cidadão pode aguentar.
Aquele novo magistrado, ao entrar no recinto, acompanhado de familiares, obrigava todos os presentes a se levantarem, mesmo aqueles visitantes que não pertenciam à corte do Castelo do Rei Arthur.
Aquele que não se levantava era punido. Pior era o povo, os funcionários, os visitantes que nunca e nada fizeram contra tais genuflexões e/ou punições. E, é claro, ele também não gostava da imprensa.
Quem nunca comeu melado. Acabáramos de sair de um movimento civil e militar que conspira hoje com um ronco surdo debaixo da terra querendo eclodir por apelo dramático de parte do povo brasileiro, pois esticaram demasiadamente o elástico das liberdades para um lado só e que pode rebentar-se.
Foi a época em que um simples guarda de trânsito era considerado militar e socava o tapa na boca de todos os inertes e amarrados magistrados e políticos que se manifestavam contra a identificação solicitada nas blitze comuns.
Com a entrega do navio Brasil ao povo, ávidos personagens foram com muita sede no pote que, hoje, se encontra perigosamente rachado. O mais rápido possível, aumentaram seus salários astronômicos, criaram leis e até cotas, dividindo seres humanos em classes e subclasses e o pior: se autoproclamaram “deuses poderosos intocáveis”, colocando os sapatos em cima de nossas cabeças.
Agora, Blairo Maggi e adjacências, boa gente, educado, votamos nele, competente, se uniu ao senador Pedro Taques, uma esperança séria contra os bandidos de Mato Grosso.
Foram até o “Bar do Dodó”, pouco pra lá de Livramento, estrada de chão batido, luz de lamparina e vela, cerveja quente, pinga da boa, pão amanhecido com linguiça e uma vitrola tocando velhos discos dos antigos 78 RPM, com Nelson Gonçalves e Ângela Maria em “Deusa da Minha Rua” e “Escultura”.
Na quinta rodada, choveu. Culparam a imprensa e, dali, nasceu a ideia de imitar Júlio Caësar, Mao Tse-Tung, Stalin, Hitler, Chiang Kai-Shek, Gengis Khan, Perón, Idi Amim, Fujimori, Khrushchev, Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morález, Getúlio Vargas, Cristina Kirchner... Culpando a imprensa pelos males do mundo.
É a boca torta pelo uso do cachimbo dos poderes que imaginam ser só deles. Estranham, agora, o poder da cidadania que o povo possui como dono absoluto dos cargos e funções da Pátria brasileira através desses impostos mais caros do mundo.
A mordaça das ditaduras era a proteção que esses dois bons senadores tinham quando exerciam a vida privada e os poderes desesperados que alguns magistrados e membros de Parquets do Ministério Público ousam abusar, embora, hoje, um farol das verdadeiras democracias do mundo moderno.
Não adianta Taques e Maggi lutarem contra a liberdade da imprensa no mundo atual. Se uma árvore está inclinada, o bom fotógrafo e um honesto jornalista sempre demonstrarão uma árvore inclinada ao povo. E não é culpa da imprensa o retorcido da árvore dos desmandos contra a nação e o povo.
PAULO ZAVIASKY é jornalista em Cuiabá.
verpz@terra.com.br 

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